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O Brasil inaugurou neste sábado (19/07), no Parque Tecnológico da Saúde em Curitiba, a Wolbito do Brasil, maior biofábrica do mundo especializada na criação do mosquito Aedes aegypti inoculado com a bactéria Wolbachia, que impede o desenvolvimento dos vírus de doenças como dengue, chikungunya e zika.
A biofábrica é resultado de parceria entre o IBMP e o World Mosquito Program (WMP), uma organização mundial sem fins lucrativos. A inauguração contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do presidente da Fiocruz, Mario Moreira, do diretor-presidente do IBMP, Pedro Barbosa e do CEO da WMP, Scott O’Neill, além de autoridades nacionais e locais.
O ministro da Saúde destacou que a inauguração da Wolbito do Brasil evidencia a liderança do país no campo da biotecnologia. “A inauguração da maior biofábrica do mundo dedicada à tecnologia Wolbachia representa um exercício de soberania e inovação nacional. Esse avanço é resultado direto da continuidade de políticas públicas e da cooperação internacional com parceiros como a Austrália. A pandemia demonstrou os riscos da dependência global na produção de insumos, e esta biofábrica é uma resposta estratégica a esse desafio. Essa conquista reafirma nosso compromisso com a ciência, com a industrialização estratégica da saúde e com a redução da dependência externa. A biofábrica de Wolbachia é um passo decisivo nessa jornada”, destacou Padilha.
A implantação do Método Wolbachia resulta do esforço do Ministério da Saúde (MS), em parceria com a Fiocruz e o WMP, e beneficiou até o momento cerca de 5 milhões de brasileiros. A previsão é que este número chegue a 70 milhões nos próximos anos, já que o MS incorporou o Método Wolbachia como uma das estratégias nacionais de combate às arboviroses.
O presidente da Fiocruz, Mario Moreira afirmou que a Instituição continua a cumprir seu papel de instituição de ciência e tecnologia na promoção da saúde pública no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). “A inauguração da fábrica em Curitiba é mais uma ação inovadora da Fundação, responsável por trazer o método Wolbachia para o país, em parceria com o WMP, e que faz parte das estratégias nacionais para o controle do Aedes aegypti e de combate a arboviroses como dengue, zika e chikungunya”, ressaltou.
O diretor-presidente do IBMP, Pedro Barbosa enfatizou que é missão institucional do IBMP entregar soluções biotecnológicas para a Saúde e contribuir para a implantação da maior biofábrica de mosquitos com wolbachia do mundo no Parque Tecnológico da Saúde é motivo de muito orgulho. “O IBMP acredita que boas soluções devem estar acessíveis para toda a população e gerem impactos positivos para a saúde pública, além de desenvolver atividades de ponta no âmbito do complexo econômico da saúde no país”.
Sobre a Wolbito do Brasil e método wolbachia
Com mais de 3,5 mil m² de área construída, equipamentos de ponta para automação e criação dos mosquitos com Wolbachia, além de uma equipe formada por cerca de 70 funcionários, a Wolbito do Brasil supre a crescente demanda nacional pelo Método Wolbachia, que se tornou uma política de saúde pública do Ministério da Saúde. Inicialmente, a unidade atenderá exclusivamente ao MS, garantindo a distribuição dos mosquitos Wolbitos para diversas regiões do Brasil com altos índices de dengue.
Presente em 14 países, o método consiste em liberar no ambiente mosquitos inoculados com a Wolbachia, para que se reproduzam com a população local de Aedes aegypti e gerem descendentes também portadores da bactéria e, portanto, com menores chances de transmitir dengue, chikungunya ou zika para humanos.
As wolbachias são um gênero de bactérias presente em mais da metade dos insetos do mundo, estima a ciência. Em estudos desenvolvidos desde o início dos 2010, cientistas conseguiram reproduzir com segurança Aedes aegypti infectados com espécies de wolbachias que não ocorreriam naturalmente no mosquito.
No Aedes, tais bactérias demonstraram ser capazes de impedir a multiplicação de diferentes arbovírus transmissíveis aos humanos, sendo ao mesmo tempo capazes de favorecer que mosquitos com a bactéria tenham uma vantagem reprodutiva sobre populações não infectadas.
O desenvolvimento do Método Wolbachia para controle de arboviroses teve início em 2008, na Monash University, em Melbourne, na Austrália. O CEO da Wolbito, Luciano Moreira, então pesquisador da Fiocruz, participou do estudo que levou ao achado científico. Na época a Wolbachia foi extraída da mosca-da-fruta e inserida no Aedes aegypti, o que hoje não é mais necessário, pois a criação é de mosquitos descendentes daqueles.
O WMP iniciou os estudos no Brasil em 2012, por meio de decisão da Fiocruz de trazer o Método para o país. Em 2014 começaram as liberações em áreas piloto: dois bairros das cidades do Rio de Janeiro e Niterói, respectivamente Tubiacanga e Jurujuba. Foi a partir dessas duas localidades que o Método foi expandido nacionalmente, contando com investimentos da Fiocruz em suas diversas fases ao longo dos anos. “A biofábrica de Wolbitos terá capacidade para produzir 100 milhões de ovos de mosquitos por semana. Nosso objetivo é reduzir significativamente os números de casos de arboviroses no país. Em dez anos teremos beneficiado mais da metade da população brasileira”, destacou o diretor-presidente da Wolbito do Brasil, Luciano Moreira.